29.11.10

primeiros passos

tenho muito pra falar, realmente, pouco a dizer
tenho pena de cantar, nao faze-lo enlouquecer
tenho muito o que brindar, muito pouco a esquecer
criei asas e voei, mas certo de que nunca vou me perder

chorei nos bracos dela,
tomei vinho na piscina,
usei manga comprida no verao
trouxe lagrimas e inchacos

atrasei e tive que correr, furei a fila e tentei esquecer
foi inevitavel, ja tinha arrumado ao amanhecer
ajeitei a mala, olhei e tentei reconhecer,
nenhum rosto fazia corresponder

amanhecia, chuva, cinza, duvida:
vim fazer o que?
olhei o aviao, pedia saudosamente pra retornar
ja tinha pousado e nao havia volta.

procurei e me pus a esperar
olhei pro's pes e queria chorar
chamaram meu nome e, no fundo, nao queria acreditar
era verdade, comprei passagem e fui viajar

onibus, transito, janela e desconhecido
novidade, esperanca e desafio
caminhada, duas horas, cama e sonhos
bom dia, costumes, cachorro e companhias

me peguei a agir
levantei e comecei a construir
perambulei e, de costume, me perdi
achei a porta e comecei a subir

folhas, caneta, pessoas estranhas e nervosismo
sala, duvidas, vergonha e mau-humor
sol ate o dia nao ter fim, esclarecimento e cigarro
dinheiro, dinheiro, dinheiro

arrependimento e faiscas me fazem duvidar
certeza, certeza, ninguem pode afirmar.
ligacoes a fazer e o coracao a apertar
derrama o corpo na cama e poe-se a rezar.

17.5.10

ladainha

te larguei por um tempo.
logo, logo, do além mar, te devoto mais atenção.
assim seja.

31.3.10

abc



queria escrever sobre algo. me veio diretamente na ideia escrever sobre escrever. é, assim mesmo. a minha relação com a escrita e com a leitura nunca foi muito interessante enquanto eu participava daqueles rituais pagãos aos quais a escola fundamental submete os alunos. lembro de uma vez a professora de português pedir pra minha turma escrever uma frase qualquer com a palavra peixe. a minha frase até hoje eu não entendi: "há peixes ruins naquele lago". bom, a partir daí tenham noção de como foi difícil a minha trajetória com a arte das palavras.
ironia do destino (ou castigo mesmo), alguns anos mais tarde eu era um dos melhores "dissertadores" da turma de terceiro ano. como? nem bem eu ao certo sei como, só sei que foi assim. eu, de alguma forma, consegui aprender a como domar as palavras dentro de um contexto e fazer com que as mocinhas fizessem certo sentido. na época, o vestibular ainda era o medo e a redação nem se fala. a disciplina de redação era o asco daqueles que já tinham passado pelos maiores testes dos rituais pagãos da escola. eu achava aquilo tão fácil, era simples dizer se gostava ou não da política do lula, se concordava ou não com o aborto, etc. temas super relevantes e que iriam fazer alguma diferença pro mundo se alguém me lesse. (not!) de qualquer forma, eu via nos meus colegas uma dificuldade tão, mas tão grande de escrever o que pensavam. preferia pensar que era por falta de informação - pra não dizer outras coisas.
eis que surge a ideia de estudar letras. vinda por que? exatamente por uma redação minha. a professora mais temida e respeitada senta do meu lado e diz que eu tinha uma grande facilidade com as palavras e me dá a dica: faz letras, terás um futuro brilhante! (sic)
aceitei o desafio, e olha, põe desafio nisso. fazer uma faculdade onde tu estudas o confim dos confins das palavras é enlouquecedor. são teorias daqui, teorias dali, palavras não existem, palavras são sons. enfim, mil e vinte coisas que me fariam algum tempo depois ter pena de muitos escritores.
pelo fato da escrita, já se pode ver o quanto é complexo. tem gente que não gosta! alguns eu até entendo: português é difícil mesmo. regras de ortografia, regências, pontuação. deu medo? isso que vocês não conhecem nem a metade!
como todo e qualquer desafio que me aparece, me apaixonei. e nesse meio tempo, li muito. quando digo "muito" é muito mesmo. o que só me fez enxergar o quanto a escrita é uma arte. pra quem conhece (nem menciono a palavra gostar) literatura, sabe que existiram milhões de formas de escrita. como assim? é fácil. nunca ouviram falar de poéticas, não é? não, não. não confunda com poesia - muito menos com o feminino de qualquer outra coisa. poética é um termo bem conhecido pra quem estuda as letras, basicamente uma poética são as características encontradas em um certo texto, ou mesmo grupo de texto (daí o nascimento de "escolas literárias") que fazem com que se assemelhem.
mas voltando ao assunto principal: escrever. todo dia as pessoas escrevem, desde um bilhetinho, até uma grande tese de mestrado, doutorado. tem gente que faz por prazer, tem quem faça por obrigação. mas todos o fazem. é uma forma de comunicação, de expressão, de sentimentalismo. há escrita em todos os lugares: na placa, na parada de ônibus, no ônibus, na tv, no computador, no jornal, na receita de bolo. todos os lugares têm letras! na maioria das vezes nem nos damos conta, mas, se há letras, há palavras, há, também, quem as escreveu. e acho que chegamos num ponto fundamental: o autor. sem entrar em polêmicas (pra quem estuda isso, sabe bem do que estou falando), o autor é o ser que pensa e transmite o seu pensamento através da escrita. ele precisou parar, pensar e redigir. pensa que é fácil? e como não ser ambíguo? e como expressar melhor seus sentimentos?
não é à toa a quantidade de pessoas com problemas de comunicação interpessoal que acham na escrita a forma de conseguirem expor seus mais íntimos sentimentos. seja num pequeno diário, seja num blog, seja num caderninho de anotações. seja escrevendo um livro, seja numa música. mas todos utilizaram da escrita pra expressarem aquilo que estava na cabeça. há vezes em que lemos algo que não faz sentido algum pra nós, porém pra algum outro grupo de pessoas, aquela foi uma iluminação. a escrita, além de tudo, é mágica.
primeiramente, o que foi escrito, nunca foi exatamente o que o autor pensou ou sentiu, mas foi a forma mais aproximada que ele conseguiu chegar. em segundo lugar, quem lê jamais irá sentir a mesma coisa. de repente não sinta nada, de repente sinta muito mais do que deveria. já ouviram falar em johann wolfgang von goethe? pois é, o rapazinho foi tão radical e sentimental em suas palavras que muitos outros jovenzinhos se mataram após terem lido "os sofrimentos do jovem werther". a escrita transforma e é transformada. afinal o que seria da escrita sem um leitor também? remetendo à história, a escrita inicialmente era instrumento de comunicação. com a evolução, há quem diga que ela passou desse pra outro estágio. eu ainda não descobri qual seja. vejo a escrita ainda como meio de comunicação, sim. seja do que seja, mas nunca deixou de comunicar. há uns rebeldes que escrevem pra nunca serem lidos. será? se não quisessem serem lidos, nunca teriam se dado ao trabalho de escrever. afinal, todos os processos psíquicos pelos quais passamos enquanto escrevemos, se forem citados, vão fazer muita gente desistir de continuar com a arte. graças a alguma força superior já viemos com todas essas tralhas marcadas dentro da gente e é só forçar um pouquinho e colocar a mão na massa, no lápis, no teclado...
escrevam, jamais estaremos livres das palavras mesmo.

15.3.10

locução

é rapidinho. é corridinho. é de coração.
é um turbilhão de mil coisas acontecendo sem nenhuma explicação.
é sempre um sim, seguido por um não.
é uma voz interna que me traz só indignação.
é assim mesmo, sem explicação.
sempre um quê de maravilha, com um de perdição.

é sempre uma dor que atinge o corpo, a alma e a imaginação.
venho dizer que a mente só exprime a voz que não cala, não.
tem coisas que a gente constrói e passa o turbilhão.
destrói, machuca, magoa e me causa irritação.

vem sempre de mansinho, uma pensação.
transita pelo ouvido, atinge o cérebro e causa uma confusão.
vem de dentro, palavras soltas: sem nexo, vontade ou indicação.
voa longe, então. cheio de esperanças de renovação.

aí vem a lágrima, prova de humanização.
faz doer a cabeça, entope o nariz e me dá comichão.
conquisto uma dúvida, assim, sem muita vontade ou emoção.
digo um nada, na espera de uma grande devoção.

perco a chance, ganho a vez.
vai em frente, suo a tez, e grito: não vai ser nada em vão!

8.2.10

sem palavras

e foi tudo programado. aquela tensão e nervosismo cabíveis a todo e qualquer viajante iniciante. comprei tudo, juntei o dinheiro necessário. chamei os amigos e voamos.

ela veio com tudo. bem vestida ao extremo, alta produção de palco e impressionou com tanta desenvoltura na frente de mais de 60 mil pessoas. cantou e me emocionou ao proferir que "this was the best performance i've made". arrepiei.

foram algumas horas de fila, alguns bons minutos caminhando debaixo do sol escaldante daquela tarde de sábado. água, muita água. a testa começava dar os primeiros sinais de vida, junto com os braços e o pescoço. o sol não deu trégua. e era um vai e vem de gente interminável. ouvem-se as primeiras movimentações dos mais corajosos e audaciosos que estavam há dias nas filas entrando no estádio. vai começar!

entramos no estádio. era uma mistura de nervosismo com força de vontade. tentamos ferozmente ficar o mais próximo possível do palco. mas foi inevitável: o sol era quente demais, o calor era demais, era gente demais. desistimos. acabamos por aceitar o fato de que ela estaria ali, próxima ou não, porém estaria ali, cantando pra nós. aí veio a chuva. água, muita água, novamente. dessa vez era em cima de todos nós. inicialmente era suportável e até refrescante todos aqueles pingos; mas então vieram os raios e trovões. deu medo. "será que vão cancelar?"; "olha o telão direito caiu"; "o telão esquerdo tá voando"; "tenho dores nos pés"; "to com muito frio"; "será que vai ter o show mesmo?" agonia. e a chuva continuava firme e cada vez mais forte.

então parou de chover. mas o cansaço mais aquela sensação de pós banho de chuva inesperado começam a falar mais alto. as dores começam a aparecer e as marcas também. mas acho que bronzeamento artístico é a nova moda. eu aderi!

e cada minuto que passa o suor, a umidade, o cansaço iam aumentando. mas igualmente o momento mais esperado vai ficando cada vez mais perto também. e a cada momento é possível sentir a energia de todas aquelas pessoas esperando a mesma coisa: ela.

aí ela aparece...

… e aí faltam palavras, faltam movimentos e o primeiro som da voz faz mexer até o último poro da minha pele fazendo-a arrepiar-se toda. e daí não há mais o que esperar. não há mais o que sofrer. há apenas o que aproveitar. gritar, cantar, dançar e rir muito. há os que choram, há os que vibram, há os que se emocionam profundamente.

eu olhava o telão e me emocionava por ver o quanto uma pessoa consegue mexer com os mais variados sentimentos de tantas mil pessoas juntas. shows ao vivo são e sempre foram uma grande diversão pra mim e sempre tive muitas histórias pra contar de todos. algum motivo especial, algum momento. esse não. esse foi todo ele especial. quando eu vi, realizei que estava no meio de uma imensidão de cabeças e que eu também fazia a diferença. sorri. virei pra frente e continuei ali, vivendo aquele momento único da minha vida. eu aproveitei. muito. mas chego em casa e sinto um vazio. o que seria? há sim, alguns outros capítulos a serem explorados mais adiante sobre tal viagem. porém, as she said “i am… yours” e vou continuar falando das peripécias dos gaúchos na cidade enorme.

[rafa percebe o quanto viagens podem mudar a sua visão de mundo. o show foi qualitativamente eficiente pra tais pensamentos.]