31.3.10

abc



queria escrever sobre algo. me veio diretamente na ideia escrever sobre escrever. é, assim mesmo. a minha relação com a escrita e com a leitura nunca foi muito interessante enquanto eu participava daqueles rituais pagãos aos quais a escola fundamental submete os alunos. lembro de uma vez a professora de português pedir pra minha turma escrever uma frase qualquer com a palavra peixe. a minha frase até hoje eu não entendi: "há peixes ruins naquele lago". bom, a partir daí tenham noção de como foi difícil a minha trajetória com a arte das palavras.
ironia do destino (ou castigo mesmo), alguns anos mais tarde eu era um dos melhores "dissertadores" da turma de terceiro ano. como? nem bem eu ao certo sei como, só sei que foi assim. eu, de alguma forma, consegui aprender a como domar as palavras dentro de um contexto e fazer com que as mocinhas fizessem certo sentido. na época, o vestibular ainda era o medo e a redação nem se fala. a disciplina de redação era o asco daqueles que já tinham passado pelos maiores testes dos rituais pagãos da escola. eu achava aquilo tão fácil, era simples dizer se gostava ou não da política do lula, se concordava ou não com o aborto, etc. temas super relevantes e que iriam fazer alguma diferença pro mundo se alguém me lesse. (not!) de qualquer forma, eu via nos meus colegas uma dificuldade tão, mas tão grande de escrever o que pensavam. preferia pensar que era por falta de informação - pra não dizer outras coisas.
eis que surge a ideia de estudar letras. vinda por que? exatamente por uma redação minha. a professora mais temida e respeitada senta do meu lado e diz que eu tinha uma grande facilidade com as palavras e me dá a dica: faz letras, terás um futuro brilhante! (sic)
aceitei o desafio, e olha, põe desafio nisso. fazer uma faculdade onde tu estudas o confim dos confins das palavras é enlouquecedor. são teorias daqui, teorias dali, palavras não existem, palavras são sons. enfim, mil e vinte coisas que me fariam algum tempo depois ter pena de muitos escritores.
pelo fato da escrita, já se pode ver o quanto é complexo. tem gente que não gosta! alguns eu até entendo: português é difícil mesmo. regras de ortografia, regências, pontuação. deu medo? isso que vocês não conhecem nem a metade!
como todo e qualquer desafio que me aparece, me apaixonei. e nesse meio tempo, li muito. quando digo "muito" é muito mesmo. o que só me fez enxergar o quanto a escrita é uma arte. pra quem conhece (nem menciono a palavra gostar) literatura, sabe que existiram milhões de formas de escrita. como assim? é fácil. nunca ouviram falar de poéticas, não é? não, não. não confunda com poesia - muito menos com o feminino de qualquer outra coisa. poética é um termo bem conhecido pra quem estuda as letras, basicamente uma poética são as características encontradas em um certo texto, ou mesmo grupo de texto (daí o nascimento de "escolas literárias") que fazem com que se assemelhem.
mas voltando ao assunto principal: escrever. todo dia as pessoas escrevem, desde um bilhetinho, até uma grande tese de mestrado, doutorado. tem gente que faz por prazer, tem quem faça por obrigação. mas todos o fazem. é uma forma de comunicação, de expressão, de sentimentalismo. há escrita em todos os lugares: na placa, na parada de ônibus, no ônibus, na tv, no computador, no jornal, na receita de bolo. todos os lugares têm letras! na maioria das vezes nem nos damos conta, mas, se há letras, há palavras, há, também, quem as escreveu. e acho que chegamos num ponto fundamental: o autor. sem entrar em polêmicas (pra quem estuda isso, sabe bem do que estou falando), o autor é o ser que pensa e transmite o seu pensamento através da escrita. ele precisou parar, pensar e redigir. pensa que é fácil? e como não ser ambíguo? e como expressar melhor seus sentimentos?
não é à toa a quantidade de pessoas com problemas de comunicação interpessoal que acham na escrita a forma de conseguirem expor seus mais íntimos sentimentos. seja num pequeno diário, seja num blog, seja num caderninho de anotações. seja escrevendo um livro, seja numa música. mas todos utilizaram da escrita pra expressarem aquilo que estava na cabeça. há vezes em que lemos algo que não faz sentido algum pra nós, porém pra algum outro grupo de pessoas, aquela foi uma iluminação. a escrita, além de tudo, é mágica.
primeiramente, o que foi escrito, nunca foi exatamente o que o autor pensou ou sentiu, mas foi a forma mais aproximada que ele conseguiu chegar. em segundo lugar, quem lê jamais irá sentir a mesma coisa. de repente não sinta nada, de repente sinta muito mais do que deveria. já ouviram falar em johann wolfgang von goethe? pois é, o rapazinho foi tão radical e sentimental em suas palavras que muitos outros jovenzinhos se mataram após terem lido "os sofrimentos do jovem werther". a escrita transforma e é transformada. afinal o que seria da escrita sem um leitor também? remetendo à história, a escrita inicialmente era instrumento de comunicação. com a evolução, há quem diga que ela passou desse pra outro estágio. eu ainda não descobri qual seja. vejo a escrita ainda como meio de comunicação, sim. seja do que seja, mas nunca deixou de comunicar. há uns rebeldes que escrevem pra nunca serem lidos. será? se não quisessem serem lidos, nunca teriam se dado ao trabalho de escrever. afinal, todos os processos psíquicos pelos quais passamos enquanto escrevemos, se forem citados, vão fazer muita gente desistir de continuar com a arte. graças a alguma força superior já viemos com todas essas tralhas marcadas dentro da gente e é só forçar um pouquinho e colocar a mão na massa, no lápis, no teclado...
escrevam, jamais estaremos livres das palavras mesmo.

4 comentários:

SCORTEGAGNA, B. disse...

E depois você diz que não gosta de poética (não por citá-la no texto mas, realmente, a tua é invejavel)!
Ótimo texto!
=P

Para não ficar dando uma de puxa-saco (é com hifen agora?), tem uma partezinha que eu não sei se concordo:
"há uns rebeldes que escrevem pra nunca serem lidos. será?"

Sometimes, eu escrevo para ninguém ler (talvez eu mesmo vá ler daqui a algum tempo, mas apenas eu = o que é um leitor, então não sei se minha discordância está correta).
Mas é só uma ideia, o texto continua excelente...
=P

Rafael disse...

muito bem pensado, bruno. alguém vai ler, nem que sejamos nós mesmos. e, nunca deixaremos de ser leitores. mesmo que dos nossos próprios textos. :)

Ci disse...

Sabe q eu tenho vergonha de publicar tudo q escrevo... juro! Acho meio invasão... sei lá... por isso q o blog tá abandonado, coitado.

Rafael disse...

por isso que eu acho que tu deveria jogar a vergonha pela janela e deixar de ser fresca.

p.s: o convite está vindo. i feel it in my veins. ahaha