15.9.08

os óculos

bom, nada mais justo que voltar a fazer um blog. estava me sentindo meio 'desvirtualizado', sabem aquelas épocas na vida que tu meio que some do mundo? estava nessas, mas agora penso que voltei. aos interessados: a letra minúscula é meramente ilustração da minha preguiça de ficar apertando 'shift' antes de algumas letras. tenha dó verônica e acostume-se!
em resposta a alguns blogs alheios digo que nessa onda de infernos malditos a gente tem muito o que fazer: por si mesmo comece encontrando seus amigos, por óbvio a melhor forma de passar um domingo sombrio e temeroso.
eu estava certo de que não ia ser fácil, já tinha em mente de que tudo aquilo pelo que a gente passara estava perto de ter um fim espetacular. e teve. isso eu penso ser uma boa idéia deixar de lado. foi só a ilustração para a parte dos amigos no domingo sombrio: sim, eles sim fazem valer a pena, ainda mais quando te fazem rir naqueles momentos mais insólitos. 'vocês viram quem tá aqui também?' e a resposta é um: 'não pode ser verdade!', ao que o outro responde: 'eu já não duvido de mais nada, depois do que já vi hoje, nada mais me surpreende, sabia que estudar linguística ia ser muito mais produtivo hoje.' e segue-se o domingo no seu percurso natural, bom, nem tão natural assim, mas continuava sim o 3 sendo depois do 2, o 4 depois do 3; e assim sucessivamente, até chegar a noite. aah! a noite! e não parece que tudo se torna nostálgico num domingo a noite? continua a conversa: 'acho que ele não te merece', seguido de um: 'penso que o Jabor tem razão - tu não pode obrigar alguém a ficar contigo.' ao que é seguido por um choro desesperado.
um choro de dor, de expressão simples e pura de amor. amor sofrido, amor cuidado com indiferença, amor enganado. o choro cessa, começam-se as conversar convencionais, aquele ao estilo- será que chove?- tudo isso pra ver se uma dor de amor passa. é possível uma dor de amor passar? e inicialmente, amores vieram pra doer? aquele orgulho, infeliz orgulho que é intrínseco em cada um de nós acaba com tudo! sem ele de repente os amores fossem um pouco mais simples. será? acho que seria um bom teste! tem partes do 'ninguém é melhor que ninguém' que todo mundo esquece.
a diferença entre os inteligentes (ou como diria o raskholnikóv do dostoiévski: os homens especiais, ou pelo menos algo desse gênero) e os convencionais é que: os primeiros entendem que são orgulhosos e que traem a si mesmos pelos outros para liberarem o amor, já os outros apenas convivem com seus orgulhos e seus amores, que acabam com finais trágicos.
abrem-se os olhos, está tudo embaçado; a primeira visão é uma lâmpada acesa e o pensamento grita: luz! é disso que eu preciso, luz! é isso que renova, luz! a próxima visão é sublime: ao invés de caras de choros ou lágrimas, caras de espanto ou medo, vejo um sorriso, molhado pela emoção, com as bochechas tão ou quão molhadas quanto as minhas, cujas lágrimas lavaram um turbilhão de sentimentos. e aquele sorriso é duplo, eu tive a sorte de ver 2 sorrisos pra mim! imaginem dois sorrisos seguidos concomitantemente de um 'eu te amo e eu vou estar sempre aqui contigo', nessa horas eu páro e pergunto: ama-se pra haver uma amizade fortalecida na tristeza do amor? ou a amizade já vem com esse pré-requisito de 'nessa hora estarei aí'? é uma dúvida que eu não quero perder tempo pensando, apenas agradecer por esse momento repetir.
levanto da cama e digo que o domingo precisa acabar logo, assim como tudo foi acabado nele. e é na segunda-feira que a história se repete, ou não. chego em casa, dou um oi à minha mãe que, aflita com a minha face, responde com um murmúrio. 'ela também está triste', penso. e ela tem todo o direito e razão, afinal ela não espera mais nada de mim. aquilo bate tão fundo lá dentro. é incrível como amor de mãe pode ser tão cruel como amores da vida. todo o meu ser cai em desespero novamente e a cama é o melhor lugar pra sofrer, só ela sabe todas as coisas que eu vivi, só ela esteve presente nos meus mais variados momentos de alegria e tristeza. deito na cama. a primeira lágrima rola novamente, ela tem um gosto mais acre, mais que o normal. me pergunto se isso é normal? deve ser, diz a resposta interna, ela, afinal, não tem culpa de nada.
o choro recomeça, agora o pranto é mais intenso, mais doloroso, mais interno que o normal. afinal, estou no meu território, ali sou mais vulnerável e suscetível a erros. ouço uma batida na porta: 'filho, tá tudo bem?', 'não', 'é aquilo de novo?', 'não, é apenas tristeza.', 'quer um copo de água?', ' eu quero que tu me abrace'. e então o choro recobre todo o meu quarto, são as minhas lágrimas misturadas às da minha mãe. 'dorme criança', minha mente voltou uns 10 anos atrás, me vi naquela mesma cena, mas eu era criança, e sofria porque tinha machucado minha irmã. naquele momento me senti com 10 anos, mas com 10 vezes mais problemas a serem resolvidos. adormeço. acordo algumas horas depois, vou ao banheiro, a imagem do espelho reflete a minha alma: um aspecto grotesco, machucado, infeliz. aspecto de quem lutou uma batalha de cem anos em três dias. essa era a minha visão.
a casa toda estava em silêncio, me sinto mais só do que nunca. e a imagem da caminhada em dupla volta à memória e o choro recomeça. é aquele mesmo choro de dor, um pranto dolorido e sofrido. 'como foi capaz de fazer isso?'. o espelho continua ali, me mostrando aquela imagem horrenda, putrificada pelo amor desiludido. mas no canto do espelho aparece uma cor estranha, mais colorida que toda aquela imagem. olho-a fixamente, ela começa a criar um tamanho maior. sinto que é uma cor de alegria. mas ela torna-se forte demais pra minha visão, eu ainda não tenho essa capacidade. mas o pranto cessa por saber que ainda há esperanças. penso que meus olhos tem problemas, porque não consigo olhar a felicidade, a cor dela é ofuscante demais. minha mãe chega em casa, dou um bom dia apertado e quase surdo e digo: 'cadê o receituário do oftalmo? preciso ir comprar os óculos.'

2 comentários:

Ci disse...

Penso que...
... concordo com a Verônica.
... tu tem q parar de chorar.
... solidão não se cura com aspirina, já diz o Zeca Baleiro.
... de amor eu não morro, já diz o Mano Brown.
... tô com saudade de ti, afilhado.

Ósculos e amplexos.

alice disse...

Penso que a vida segue o seu caminho e "Um dia tudo volta para o seu lugar/ Um dia vai ficar como devia estar"

Penso que gosto desse lugar e vou visitar! ;)